sexta-feira, 15 de julho de 2011

Crítica: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (2011)



O grande final. Chega ao fim uma das maiores séries já concebida pelo cinema. A bilionária saga de Harry Potter, trazida até nós pela Warner, um dos mais bem sucedidos estúdios que na década passada nos trouxe a impecável triologia O Senhor dos Anéis e o sucesso de bilheteria Matrix, aposenta agora sua última galinha dos ovos de ouro. Vamos ter que aprender a viver sem aguardar a cada ano um novo capítulo da história. A história, que de um jeito ou de outro me conquistou, chega ao fim, da melhor maneira possível, quando corajosamente a autora, a britânica J.K. Rowling conseguiu nos fazer acreditar até o fim que tudo era possível, até mesmo a morte do herói.

Tudo começou no longínquo ano de 2001, quando Chris Columbus (Esqueçeram de Mim, 1990), pelo seu dom em ministrar atores infantis, foi o escolhido para dirigir “Harry Potter e a Pedra Filosofal” saído do livro homônimo escrito em 1997. A produção foi realizada com muito cuidado, criando toda a mitologia na tela, os cenários detalhados, conforme as extensas (e um tanto massantes) descrições descritas no livro, o original esporte “quadribol”, efeitos na medida e muita aventura e mistério, acertando em cheio ao chamar o compositor John Willians que, como sempre, criou a trilha marcante que ao ouvir as primeiras notas já sabemos de que filme se trata. Chris Columbus manteve a mesma qualidade no que é o meu filme favorito da série, “Harry Potter e a Câmara Secreta” (2002), que expande a mitologia, revela segredos e torna mais densa e profunda a relação herói-vilão da série. Em 2003, Alfonso Cuarón deixa sua marca dirigindo “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” no que foi a bilheteria mais fraca (não significa que foi pouco), introduzindo excelentes idéias não presentes no livro, mas retirando algumas partes importantes, numa tentativa da produção de enxugar o roteiro, mesmo assim o filme tem muita qualidade e apresenta Gary Oldman no interessantíssimo Sirius Black, o prisioneiro de Azkaban, a prisão dos bruxos. “Harry Potter e o Cálice de Fogo”: o bruxinho cresceu! Mike Newell assina a direção deste quarto filme, que contrasta o amadurecimento dos personagens, e a frieza da autora a matar um deles. David Yates assume apartir de 2007 e dirige a série até seu final, “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, o mais fraco episódio, o sombrio “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” (2009), e a preparação para o arrebatador final “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1” (2010). Eis que chegamos em Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2.

 “Não vamos fazer nenhum plano. Toda vez que fizemos não saiu como o planejado”

Direto ao ponto, o filme continua da onde parou, de maneira corrida, e o trio Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) invade corajosamente Gringots, o banco dos bruxos, buscando mais uma das sete horcruxes, um artefato caminho para a vitória sobre Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Eis o ponto alto do filme. Harry agora está mais corajoso que nunca, e dá a cara a tapa, enfrenta Snape, Voldemort e quem mais for, tememos a cada momento pela vida de nossos heróis, nunca antes tão expostos e frágeis, vemos que o Voldemort não está para brincadeira, e muitos dos personagens que estávamos acostumados a ver interagindo na tela, aparecem mortos, são assassinados friamente, sem cerimônias. Mesmo a tão segura Hogwarts é impiedosamente punida, sendo cenário de uma batalha. Sentimos os perigos quando aquela que no primeiro filme foi considerada “o único lugar mais seguro que Gringots” por Ragrid (Robbie Coltrane). Pois bem, vemos os dois sendo destruídos. A aventura é de primeira, e é realmente muito divertido acompanhar o suspense e o medo de cada investida do trio em busca dos objetivos, e além de tudo, o lado cômico do filme está impecável, no momento certo sempre há uma frase, uma atitude engraçada, ou uma referência a algum momento anterior que nos arranca sinceros sorrisos do rosto, mantendo a alegria a cada momento do filme, por mais momentos sérios e profundos que hajam durante a projeção. Assim vale mesmo a pena ir ao cinema.

Voldemort, o lorde das trevas, firma-se mesmo com um dos mais cruéis e temíveis vilões do cinema, o qual temia-se até mesmo pronunciar o nome. A história contada acerta ao deixar muito do seu passado no esquecimento. Toda vez que sabemos de suas proezas, é algum flashback, alguma lembrança, algo contado, deixando sempre a sensação de que ainda não sabemos de tudo que ele fez, e nem saberemos. E realmente sua crueldade não tem limites. Em certo ponto do filme, Voldemort está tão irritado que assassina um de seus capangas simplesmente por lhe dirigir a palavra. Severus Snape (Allan Rickman) mais uma vez retorna interessante, personagem o qual nunca sabemos de que lado está. Sempre tão fiel, mas ao mesmo tempo tão traidor, agora ficamos sabemos de laços profundos dele com Harry.

Como em Toy Story 3 (2010), um grande acerto da produção foi a série foi acompanhar o envelhecimento de seu público. A história de Toy Story (1995) era voltada pra crianças, assim como Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001). Já Toy Story 3 foi feita nos padrões do presente daquelas mesmas crianças de 1995, hoje na faculdade, no trabalho, como Andy. Bem como Harry Potter e As Relíquias da Morte não é um filme para crianças. A classificação etária é de 14 anos, fosse assim em 2001 a série teria sido um fracasso. Mesmo assim, ainda há diversão para todas as idades, assim como romances, tão esperados, e talvez um pouco atrasados, mas considero que vieram no tempo certo, antes disso teria se tornado um mero melodrama para adolescentes.

Um dos pontos em que o filme deixa a desejar é um desenvolvimento maior dos coadjuvantes e, assim como em “O Enigma do Príncipe”, o pós-final. É pouco detalhado o destino que cada um dos tão amados personagens que tiveram nossa atenção nos últimos 10 anos, mas isso realmente tornaria a duração extensa demais. Mesmo assim ao final da projeção ainda fica nos reservado a sensação de que, assistindo novamente, é possível interpretar certos pontos e descobrir alguns segredos. A autora acerta novamente ao fugir do óbvio, o final em nenhum momento foi previsível. Até o último momento não tínhamos certeza se Harry iria ou não sobreviver, pois sim, J.K. Rowling era sim capaz de matá-lo.

De qualquer forma, um ótimo nível foi mantido a cada episódio, chegando viva a este último capítulo, que acabou sendo o melhor deles. As inserções de flashbacks são de arrepiar, e é de se parabenizar a produção. Momentos em que Harry era um bebê parecem terem sido filmados há 10 anos atrás, junto com “A Pedra Filosofal”, bem como a beleza da construção da paixão de Snape por Lilian Potter, a mãe de Harry. Assim também os efeitos visuais em raríssimos momentos deram na vista. Pudera, mais de oito empresas de efeitos de computação trabalharam no desenvolvimento. Destaque para o dragão branco, guarda de Gringots, que parecia real.

O resultado final é de que sim, valeu a pena. Não pude acompanhar Star Wars nem Indiana Jones, minhas séries favoritas, mas posso dizer que vivi, sofri e torci até o final pela luta contra aquele que não deve ser nomeado. A série de minha geração, tem um final que faz toda e qualquer falha anterior ser superada. Não é o melhor filme já feito. Nem é um filme perfeito, tem sim seus defeitos, mas pela experiência que me fez sentir e pela diversão proporcionada, valeu cada momento e posso afirmar que, pela emoção de aplaudir cada vitória conquistada na tela, foi a melhor sessão de cinema que já presenciei.


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