segunda-feira, 4 de julho de 2011

A deliciosa violência urbana

Fui testemunha de assassinatos na semana passada.
Foi uma aventura e tanto, nem sei por onde começo a contar, o melhor é começar pelo começo.

Estava eu a trabalhar quando meu chefe me incumbiu a missão de realizar uns pagamentos no banco Banrisul. Fui com uma gorda quantia em dinheiro e as contas a serem pagas num envelope. Após alguns minutos na fila, a missão havia sido concluída com sucesso. Me dirigi à saída para voltar ao trabalho, quando na porta da entrada uma senhora comentou assustada:

"-Nossa deu uns 10 tiro lá atrás, socorro que que é isso?!!"

3 horas da tarde, o sol brilhava embora estivesse bem frio em Porto Alegre. 2 opções: voltar ao trabalho pela direita ou ir ver o tiroteio, pela esquerda.

Claro, fui ver o tiroteio, saí correndo pra perto do tumulto, foi então que passei por um círculo de pessoas, entrei no bolinho, e vi que havia um rapaz tranquilo sentado no asfalto da avenida Assis Brasil e resolvi perguntar a ele o que havia acontecido, mas ele não pôde responder por que estava com o peito cheio de furos de bala. O parceiro dele estava deitado no chão, as pernas tremendo como quem tem um ataque epilético, e ele inútilmente se arrastava em direção a calçada. Pergunto-me: aonde ele queria ir? Havia um círculo de policiais o cercando (uns 30 no mímino) e mais um helicóptero sobrevoando o local com um atirador. Aí os tiras nos enxotaram e mandaram se afastar.

O bandido estava sentado, escorado no carro vermelho.
Fiquei a 1 metro dele. O outro estava deitado no chão.
O ocorrido é que uma mulher saiu do Banco, os dois tentaram assaltá-la, um policial a paisana viu e atirou neles, um terceiro que estava na retaguarda acertou o policial pelas costas.


Foi bem interessante minha experiência, ver alguém morrendo de perto, o assaltante estava amarelo, de olhos abertos, tentando respirar. Gostaria de saber o que ele estaria pensando. O que ele gostaria de estar fazendo naquele momento... E o outro que se arrastava. Aonde ele pretendia ir? No hospital? Se ele se arrastasse certamente morreria antes de chegar. Mesmo que não estivesse naquele estado, a pé, seria 20 minutos de caminhada. A melhor opção era esperar pela ambulância, que vinha bem devagar. Enquanto isso ele escutava alguns recadinhos dos tiras enquanto tomava uns chutes bem dados de coturno. Quando a ambulância chegou foi cômico.

Após uns 15 minutos fuçando nele, os enfermeiros o colocaram na maca e saíram na ambulância em direção ao hospital. Que conste que ela parou na faixa de segurança para os pedestres atravessarem a rua, e parou no sinal vermelho também, tudo isso respeitando o limite de velocidade. Lei é lei. Se os bandidinhos tivessem cumprido a lei, não estariam violados a chumbo dependendo de socorro urgente.

Porque o ser humano é tão curioso? Todos querendo ver sangue, todos aflitos e arriscando a pele, e arriscando também tomar uns sopapos dos tiras, tudo pra ver os vermes ali definhando. Incluindo eu é claro.
Nesse ponto que me pergunto, por que os noticiários exibem notícias tão inúteis desse tipo? Por que precisam noticiar "acidente de carro mata 6", "assalto a mão armada mata mãe de família", "sequestradores matam vítima". O QUE É QUE NÓS PODEMOS FAZER??? Um redator da imprensa disse certa vez ao discursar na sala de aula de um amigo meu que notícias felizes não dão audiência. Só as violentas. Tem público.

Já tinha visto no meu bairro (que é bem violento) alguns viciados serem mortos por dívidas de tráfico. Pode ser um tanto revigorante isso, você se sente superior. Me senti superior essa semana. Explico porquê: é pelo fato de você poder agradecer pelo menos uma coisa. O fato de você estar no lado claro da Força. Ter escolhido o certo. O bem. Tem idiota no mundo a ponto de dizer que não existe o bem e o mal, e tentar explicar com teorias imbecis do tipo teoria das cordas, niilismo, o diabo a quatro, nem quero saber. Mas aposto que eles não gostariam de ser assaltados, que o estuprassem, e invadisse sua casa. Isso é ruim né? OK, então o bem e o mal existem. Mas aqueles imbecis escolheram, ao invés de trabalhar, ir tirar de quem trabalhou, por meio da violência gratuita. Tiveram o que mereciam, e ali no asfalto com areia e sangue, já não havia mais volta.

Fiquei imaginando. Como deve ser o último dia de vida? Me coloquei no lugar deles. Teriam acordado, decidido que iam cometer uns crimes e na certezinha que a noite iam estar em casa com o bolso forradinho de dinheiro que não era deles, talvez consumindo algumas drogas. O que será que pensaram no momento em que sentiram aquela mordida no corpo do chumbo entrando? O que pensavam quando estavam no chão agonizando? Ouvindo xingamentos de todos os lados, apanhando sem poder se defender. Bem feito, foi o que fizeram covardemente à senhora que iam assaltar. Será que cogitavam o risco de dar errado?

Hoje é o último dia do resto de nossas vidas. Até que seja o dia da nossa morte. Espero que a morte seja a última coisa que aconteça na minha vida. O que importa é morrer com saúde.


Um comentário:

  1. Infelizmente o mesmo sistema que produz, que trabalha, que enriquece e que gira a "roda" da economia, é o mesmíssimo sistema que gera o bandido; O capitalismo.

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