segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crítica: Sociedade dos Poetas Mortos (1989)


O diretor Peter Weir, de genialidades como “Show de Truman” (The Truman Show, 1998), opta por não subjulgar a capacidade do espectador, ao não lançar na tela dados como data e localidade, está tudo nas entrelinhas, basta um pouco de atenção, e veremos em diálogos como "-Há 100 anos, em 1859..." para poder entender que a história se passa entre o fim dos anos '50 e o início dos anos '60, em um colégio interno para garotos, onde o conservadorismo, o machismo e outros ismos imperavam na américa.

Nesta linha do conservadorismo, em certo ponto do filme, um dos personagens luta por suas escolhas na vida, assunto no qual o pai linha-dura sempre acaba se impondo. O espectador pode perguntar "e a mãe, que lado toma nesta luta?". A resposta é: nenhum! Que direito tinham as mulheres naquela época? E podemos ver isso claramente quando, a primeira vez que vemos a mãe do garoto em cena, ela está simplesmente chorando, sem sequer ter tentado convencer o pai, ou consolar o filho.

Já outro personagem, sempre quieto e temeroso, tentando ao máximo manter distância de qualquer coisa "anormal" em sua conduta no colégio, mostra-nos outra boa escolha do diretor. A princípio podemos dizer: "ah... O velho clichê do garoto pobre que não quer perder a bolsa". Mas não. Unicamente é um garoto tímido que mal tem coragem de ler em público, apesar de aparentar ser poeta, ao tentar esconder suas literaturas do colega brincalhão.

O filme acaba de maneira muito realista. Fugindo dos padrões atuais de cinema, onde o objetivo normalmente é agradar os egos de quem o assiste, para que o diga "nossa, que belo filme!", nesta obra de '94, onde o personagem central John Keating, (Robin Willians, de Jumanji, 1995), um professor a frente de seu tempo, com métodos não convencionais de ensino (talvez fonte de inspiração para Escritores da Liberdade, 2007) vem com o objetivo de mostrar novos valores às vidas destes estudantes, num momento em que seguem a dura rotina de estudar, estudar e estudar, se formar e ser o que agradar o papai e a mamãe, de modo assim, jamais vivendo a vida. "Carpe Diem". Do latim, “Aproveite o dia”, é o lema ensinado por Keating, que aos poucos influencia aqueles alunos, que passam a arriscar mais, querer mais e viver mais. Aproveitar mais. "Carpe...".

A Sociedade dos Poetas Mortos era o ponto de escape daquelas almas aprisionadas no tédio do cotidiano, sociedade oriunda dos tempos em que John foi aluno daquele mesmo colégio, provavelmente tentando se libertar. Liberdade é tudo o que os jovens procuram, e por quê sempre acabam perdendo isso ao atingir a idade adulta?
Mas porquê o final é realista?
Experimente dizer ao seu chefe que não irá trabalhar hoje por que, afinal, não tem nada pra fazer no escritório hoje mesmo... (E realmente não tendo!); você receberá um aviso prévio e logo não precisará trabalhar dia nenhum! O correto seria ir para o escritório, fingir que está fazendo algo até o final do dia, e chegar em casa cansado, e no dia seguinte, desgastado para as tarefas que virão.

E assim o mundo continua, a hipocrisia impera, mudaram as estações, mas nada mudou. Se você tentar mudar a rotina, o rumo pode tomar proporções fatais, assim como apresentado neste "Sociedade dos Poetas Mortos" e em "Beleza Americana", 1999. Você deve não viver, e sim funcionar. Seguir os padrões, mostrar lá fora o quê você não é e nunca alcançar o que realmente almeja para a sua vida.

Ou então, fazer o que realmente quer, dar um belo dane-se para a hipocrisia, e ver no quê isso vai resultar.

Carpe Diem!

Originalmente postado no site Cineplayers.

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